quinta-feira, 29 de maio de 2025

MARINA SILVA E OS SENADORES QUE ENVERGONHAM O BRASIL

Na última terça-feira, o Brasil presenciou um episódio que escancara o machismo, o autoritarismo e a brutalidade ainda presentes nos espaços mais altos da política nacional. A cena se desenrolou no Senado da República, durante uma audiência em que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi alvo de ataques grosseiros e misóginos por parte de dois parlamentares: Marcos Rogério (PL-RR) e Marcos Pontes (PL-SP). E, de forma ainda mais vergonhosa, por parte do senador Marcos Valério, do PSDB do Amazonas, que protagonizou uma das falas mais desrespeitosas já registradas contra uma mulher no plenário.

Ao se dirigir a Marina, Marcos Valério afirmou: “Desejo separar a mulher da ministra, porque a mulher merece respeito, a ministra não”. A frase, que deveria ter causado indignação imediata de seus pares, escancarou a tentativa de desumanizar e reduzir a figura de Marina Silva a uma função, como se o exercício de cargo público por uma mulher a desautorizasse a ser tratada com dignidade. Mas Valério foi além. É o mesmo parlamentar que, dias antes, dissera ser “difícil ouvir Marina durante seis horas sem querer enforcá-la”. As palavras, além de inaceitáveis, são violentas, carregadas de ódio, e beiram uma incitação simbólica à agressão.

Como se não bastasse, o senador Marcos Rogério engrossou o coro de desrespeito, mandando a ministra “se pôr no seu lugar”. Uma ministra de Estado, eleita deputada federal por três vezes, ex-senadora, ex-candidata à Presidência da República por três vezes, reconhecida internacionalmente como uma das maiores líderes ambientais do mundo, foi tratada como se fosse um estorvo por ousar apresentar argumentos e defender a floresta. O gesto de Rogério não foi técnico, não foi político: foi um ato violento de silenciamento, de misoginia, de tentativa de rebaixar uma mulher negra, do Norte, ex-seringueira, ex-doméstica, que ousa ter voz própria em um espaço dominado por homens brancos, ricos e com histórico de blindagem mútua.

Mais grave do que o comportamento grotesco desses senadores é a reação de parte da população que, por má-fé ideológica, ignorância ou crueldade, aplaude esse tipo de atitude. Em nome de uma guerra política que despreza a ética e a empatia, há quem veja em Marina Silva uma inimiga, quando ela é, na verdade, uma das poucas vozes que ainda sustenta alguma dignidade no serviço público brasileiro.

Marina é tudo o que esses homens não suportam. Ela é mulher. É negra. É do Acre. É evangélica. Tem 66 anos. Foi alfabetizada aos 16, formou-se professora aos 26. Lutou contra hepatite, malária, contaminação por mercúrio, miséria e preconceito. Foi seringueira, empregada doméstica, senadora, ministra de Lula e de Dilma. Ganhou prêmios internacionais e é respeitada por ambientalistas, líderes políticos e cientistas em todos os continentes. Marina não precisa gritar para ser ouvida, e talvez seja justamente isso que a torna tão insuportável para homens que só sabem bater na mesa para serem notados.

Naquela sessão do Senado, não foi apenas uma ministra do Meio Ambiente que foi agredida: foi uma mulher. Uma cidadã. Uma mãe. Uma avó. Uma senhora que carrega no corpo as cicatrizes de uma vida difícil, e que, ainda assim, se coloca com firmeza, com serenidade e com fé onde muitos só sabem se impor com arrogância.

Os senadores que a interromperam, a insultaram e a mandaram calar são os mesmos que empobrecem o debate público todos os dias. São os rostos de uma política que não suporta o contraditório, que não aceita mulheres pensantes, que teme tudo aquilo que não pode controlar ou corromper. Esses homens, travestidos de parlamentares, tremem diante de quem não bate em nada, mas tem a floresta inteira no peito.

Marina não responde com insulto. Responde com a sua história. Com a força de quem sobreviveu a tudo e segue firme. E é justamente por isso que ela cresce diante dos ataques: porque sabe que o tempo — esse juiz silencioso e implacável — é o melhor dos julgadores. Quando um senador diz que respeita a mulher, mas não a ministra, ele está dizendo que não suporta que uma mulher tenha poder. Quando outro diz que ela atrapalha o Brasil com “essa conversa de governança, nhén-nhén-nhén”, ele apenas escancara sua própria mediocridade.

O Brasil deve mais do que um pedido formal de desculpas a Marina Silva. O Brasil deve respeito. Escuta. Proteção. O país falhou com ela muitas vezes. Subestimou-a. Ignorou sua trajetória. Criticou-a por ser discreta, por não se vender, por não ceder às chantagens do poder. Mas a história ainda vai pôr cada um no seu lugar. E o nome de Marina será lembrado com reverência, enquanto os que a insultaram se tornarão notas de rodapé — quando muito.

Marina não é só uma ministra. Marina é patrimônio moral da República. É um exemplo vivo de integridade. É a prova de que ainda é possível fazer política com dignidade. Por isso, incomoda tanto. Porque não se dobra. Porque não se vende. Porque acredita em um país justo, com floresta em pé, com crianças alimentadas, com mulheres respeitadas. E, por tudo isso, Marina é — e continuará sendo — muito maior do que os homens que tentam calá-la.

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