Em meio a um cenário de tensões políticas crescentes entre o Executivo estadual e a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), parlamentares que integram a base da governadora Raquel Lyra (PSD) participam, na manhã desta terça-feira (27), de um café da manhã no Palácio do Campo das Princesas. O encontro foi convocado de última hora pela líder do governo na Casa, deputada Socorro Pimentel (UB), ainda na segunda-feira (26), com caráter de urgência. A movimentação do governo ocorre num momento em que matérias de interesse do Palácio enfrentam entraves e resistências dentro do Legislativo, provocando mal-estar entre aliados e sinalizando falhas de articulação política da gestão estadual.
A reunião, marcada para as 8h30, tem como principal pauta o destravamento de projetos estratégicos que permanecem paralisados na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ), presidida pelo deputado Antonio Moraes (PP). Entre eles, estão o pedido de autorização para a contratação de um empréstimo de R\$ 1,5 bilhão, considerado essencial para o equilíbrio das contas públicas e investimentos estruturais do governo, e a indicação de Virgílio Oliveira para o cargo de administrador-geral do arquipélago de Fernando de Noronha. Ambas as propostas, apesar da urgência alegada pelo Executivo, enfrentam resistência de setores da base, que cobram maior diálogo e contrapartidas do governo.
Outra questão sensível que deve ganhar espaço na conversa é a nomeação do novo presidente da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). Moshe Dayan, que havia sido indicado pelo governo e teve seu nome aprovado pela CCLJ mesmo em meio ao alerta sanitário gerado pelos riscos de contaminação pela gripe aviária, acabou não sendo confirmado em plenário. A ausência de quórum, interpretada por aliados como uma articulação da Casa Civil para evitar a votação, causou desconforto entre os deputados que apoiam a gestão. Nos bastidores, o sentimento é de que a base foi colocada em uma posição constrangedora, acumulando o ônus político de uma decisão que não foi comunicada previamente ou devidamente construída com os parlamentares.
A ausência de uma condução coordenada por parte da articulação política do governo tem sido alvo de críticas veladas, e o encontro desta terça-feira é visto como uma tentativa de reposicionar a liderança da base e reestabelecer pontes com os deputados que se sentem desprestigiados. O ambiente na Alepe é de cobrança por maior respeito ao papel do Legislativo, especialmente por parte dos parlamentares que ajudaram a garantir a governabilidade nos momentos mais delicados da administração Raquel Lyra. A relação entre o Palácio e sua base tem oscilado entre apoios firmes e frustrações silenciosas, tornando ainda mais delicada a tramitação de projetos prioritários.
Com o avanço do calendário legislativo e a aproximação do segundo semestre, que será marcado por intensas disputas eleitorais municipais, o governo estadual corre contra o tempo para evitar uma paralisia institucional. O café da manhã promovido hoje no Palácio é mais do que um gesto de cortesia: representa uma tentativa de realinhamento político em um momento decisivo para a administração. Mesmo sendo realizado sob clima aparentemente cordial, o encontro carrega o peso de cobranças, promessas e expectativas por parte de deputados que esperam mais protagonismo, respeito institucional e efetividade nas articulações da Casa Civil.
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