Em um movimento que surpreendeu até os observadores mais atentos da política pernambucana, a cidade de Petrolina foi palco, na noite de ontem, de uma articulação considerada a primeira grande demonstração de unidade da oposição ao governo Raquel Lyra (PSD). O prefeito Simão Durando (União Brasil) recebeu figuras de peso do cenário político estadual, entre elas o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e três pré-candidatos ao Senado Federal: Miguel Coelho (União Brasil), Silvio Costa Filho (Republicanos) e Marília Arraes (Solidariedade).
A reunião, embora tenha ocorrido em clima festivo e descontraído, teve fortes elementos simbólicos. A presença de Miguel e Marília, que estiveram em campos opostos na eleição de 2022 — ele como candidato ao governo pelo União Brasil, ela como adversária direta pelo Solidariedade — indicou que antigos embates começam a ser superados em nome de um projeto mais amplo de poder. Os dois trocaram cumprimentos, conversaram longamente e posaram para fotos ao lado de João Campos, em um gesto interpretado nos bastidores como um aceno claro de reaproximação.
João, por sua vez, surge como o elo de articulação desse novo momento. Jovem, bem avaliado na capital e com forte capilaridade política no interior, o prefeito do Recife tem se movimentado silenciosamente para assumir uma posição de liderança dentro da frente oposicionista. Sua presença em Petrolina, reduto tradicional da família Coelho, sinaliza que ele não pretende limitar sua atuação à Região Metropolitana, mas que está disposto a dialogar com todas as regiões do estado.
Um dos destaques mais evidentes do encontro foi Silvio Costa Filho. Ministro dos Portos e Aeroportos no governo Lula, Silvio carrega consigo uma bagagem administrativa robusta, além de prestígio crescente em Brasília. Sua atuação à frente da pasta federal tem lhe rendido reconhecimento nacional, inclusive em setores do empresariado e da logística, e o projeta como um nome forte para representar Pernambuco no Senado. Sua presença reforçou a mensagem de que a oposição quer unir experiência, capacidade técnica e articulação política em seu palanque.
Silvio vem sendo apontado como peça-chave para o projeto de reconstrução de uma frente ampla, especialmente por sua habilidade de transitar em diferentes correntes políticas e manter diálogo com o governo federal. Ao lado de João Campos, Miguel e Marília, ele ajuda a dar forma a uma composição que, se bem consolidada, pode representar uma ameaça real à reeleição da atual governadora. Em discursos reservados durante o evento, seu nome foi citado como símbolo de competência e equilíbrio, atributos considerados essenciais para o Senado.
O encontro aconteceu num momento em que a oposição começa a desenhar as primeiras linhas do que pode vir a ser um amplo palanque contra Raquel Lyra em 2026. A governadora, embora ainda conte com índices razoáveis de aprovação, enfrenta dificuldades de articulação política e vem acumulando críticas de antigos aliados. O que se viu em Petrolina, portanto, foi mais do que uma simples confraternização: foi um gesto calculado, com vistas ao futuro próximo da política estadual.
A escolha de Petrolina como cenário não foi por acaso. A cidade do Sertão é um dos principais polos de crescimento econômico do estado e tem sido apontada como exemplo de gestão eficiente nos últimos anos. Ao se reunir ali, esse grupo opositor tenta demonstrar que pode unir força política e experiência administrativa. A fala de João Campos durante o encontro, embora breve, teve tom de liderança e reafirmou o compromisso com uma agenda de desenvolvimento para todas as regiões de Pernambuco.
A aproximação entre Miguel e Marília, especialmente, foi vista como um dos pontos altos do encontro. Ambos saíram da eleição de 2022 com marcas de uma disputa dura, mas parecem agora compreender que o jogo político exige alianças mais amplas. Os gestos trocados ontem indicam que as mágoas do passado estão sendo colocadas de lado, ao menos por enquanto.
Sem discursos inflamados ou anúncios oficiais, o encontro serviu para marcar território. A oposição ensaia um movimento de coesão que pode mudar os rumos do debate político no estado. Se a reunião de ontem foi o primeiro passo, os próximos meses dirão até onde essa costura conseguirá avançar. Mas uma coisa ficou evidente: a oposição, que até então se apresentava fragmentada, começa a desenhar um novo mapa de forças e articulações em Pernambuco.
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