quarta-feira, 25 de junho de 2025

PÚBLICO SENTIU FALTA DE GILSON MACHADO

A tradicional noite de São João em Caruaru teve um momento de surpresa e especulação na última segunda, 23 de junho, com a ausência notada do sanfoneiro Gilson Machado, ex-ministro do Turismo e um dos fundadores da banda Brucelose. Gilson era aguardado para subir ao palco durante o show no Alto do Moura, reduto simbólico do forró e da cultura popular nordestina, mas não compareceu. A ausência, que não foi anunciada previamente nem explicada no palco, logo se espalhou entre o público e nos bastidores do evento. A explicação, no entanto, está no campo jurídico: Gilson Machado está proibido de sair da comarca do Recife por determinação do Supremo Tribunal Federal, em decisão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes.

A restrição de mobilidade faz parte de um conjunto de medidas cautelares impostas por Moraes ao conceder liberdade provisória a Gilson Machado, após sua prisão por suposto envolvimento em atos antidemocráticos. O ex-ministro figura entre os investigados por participação em articulações golpistas contra o Estado Democrático de Direito, incluindo os desdobramentos dos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Em sua decisão, o ministro Alexandre de Moraes determinou que o investigado não pode se ausentar da comarca onde reside — no caso, o Recife — sem prévia autorização judicial. A medida tem como objetivo garantir que o investigado permaneça à disposição da Justiça e impeça riscos de fuga ou obstrução das investigações.

Ainda que tenha voltado a se apresentar publicamente após deixar o governo federal, Gilson vê agora sua carreira artística atravessada pelas consequências jurídicas do processo em tramitação no STF. A proibição de deslocamento o impede de cumprir uma agenda típica do período junino, marcada por viagens constantes pelo interior nordestino, onde ocorrem os principais festejos. A apresentação em Caruaru, por exemplo, era considerada uma das mais importantes da temporada, especialmente por ocorrer em um dos palcos mais prestigiados da festa, o do Alto do Moura, tradicionalmente frequentado por artistas ligados às raízes do forró.

A ausência de Gilson Machado no palco foi sentida tanto pelo público, quanto pelos demais membros da Brucelose, banda com mais de três décadas de estrada. O sanfoneiro é uma figura central no grupo, sendo responsável tanto por parte da identidade sonora quanto pelo apelo junto ao público. Apesar disso, a banda manteve o show, mas sem comentar publicamente a ausência do colega. Nos bastidores, circulava a informação de que a impossibilidade de viajar havia sido comunicada internamente dias antes, mas optou-se por não tornar o assunto oficial. A decisão judicial, com base no inquérito que corre em segredo de Justiça, tem validade por tempo indeterminado, o que pode afetar futuras apresentações agendadas para o interior de Pernambuco e outros estados.

A situação de Gilson Machado é semelhante à de outros aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro que estão sob investigação por envolvimento em supostas tentativas de golpe ou conspiração contra as instituições democráticas brasileiras. O ministro Alexandre de Moraes tem adotado uma linha dura nas decisões que envolvem suspeitos desse núcleo político, impondo restrições rigorosas mesmo àqueles que não permanecem presos preventivamente. No caso de Gilson, a interdição de mobilidade não apenas atinge sua liberdade individual, mas também compromete sua atividade profissional em um momento crítico do calendário artístico.

Enquanto isso, o público de Caruaru, sem saber dos detalhes jurídicos, reagiu com surpresa e certa decepção à ausência do sanfoneiro. Nas redes sociais, fãs lamentaram não ter visto o artista no palco e questionaram sua situação. Apesar da performance enérgica dos demais integrantes da Brucelose, o vazio deixado pela sanfona de Gilson Machado foi impossível de ignorar.

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