segunda-feira, 21 de julho de 2025

BOLSONARO EXIBE TORNOZELEIRA ELETRÔNICA EM VISITA AO CONGRESSO E MUDA DISCURSO SOBRE “HUMILHAÇÃO”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu nesta segunda-feira (21) ao exibir publicamente, pela primeira vez, a tornozeleira eletrônica imposta por decisão judicial. Em visita ao Congresso Nacional, onde foi recebido por parlamentares aliados, Bolsonaro não escondeu o equipamento de monitoramento que agora carrega no tornozelo, e chegou a posar para fotos ao lado de deputados federais, com a tornozeleira visivelmente à mostra. A atitude chamou atenção pela mudança de postura em relação às declarações feitas dias antes, quando afirmou que não pretendia expor o dispositivo por considerá-lo símbolo de humilhação.

A decisão de obrigá-lo ao uso da tornozeleira foi tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 e outras ações que teriam atentado contra a democracia. O ex-presidente teve seu passaporte apreendido, foi proibido de sair do país e agora está sob monitoramento eletrônico. A medida foi tomada após a Polícia Federal reunir elementos que reforçam sua suposta participação em articulações golpistas durante e após seu mandato. Moraes considerou que havia risco de fuga e necessidade de vigilância contínua.

Apesar da resistência inicial, Bolsonaro decidiu mostrar o equipamento em ambiente controlado, cercado de aliados políticos, em um gesto que analistas interpretam como tentativa de demonstrar força diante da adversidade e reforçar sua narrativa de perseguição. Na sexta-feira anterior, ao participar de eventos em Brasília, ele havia dito que a tornozeleira era uma “vergonha” e que não teria coragem de mostrá-la. O gesto desta segunda, portanto, reverte o discurso e lança dúvidas sobre sua estratégia diante da opinião pública.

Nas imagens divulgadas nas redes sociais de parlamentares do PL, Bolsonaro aparece sorridente, com a perna ligeiramente levantada e a calça erguida, revelando o equipamento. A cena, ao mesmo tempo simbólica e provocativa, gerou imediata repercussão. Alguns aliados exaltaram sua “coragem” e “resiliência”, enquanto adversários criticaram o que consideraram uma tentativa de normalizar o uso de um instrumento judicial diante de graves acusações.

A exibição pública da tornozeleira ocorre em um momento de forte pressão jurídica sobre o ex-presidente, que enfrenta múltiplas investigações e processos. Ele já foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Agora, com a intensificação dos inquéritos no STF e a atuação da Polícia Federal, sua situação se agrava ainda mais, com possibilidades reais de denúncia formal e eventual prisão preventiva, a depender dos desdobramentos das apurações em curso.

Internamente, a exposição da tornozeleira também tem repercussões políticas. Setores da direita tentam usar o episódio para reforçar a narrativa de que Bolsonaro é vítima de uma suposta perseguição judicial, enquanto setores mais moderados do próprio campo conservador avaliam que a imagem do ex-presidente acorrentado eletronicamente compromete o capital político da direita bolsonarista nas eleições municipais de 2026. Nos bastidores, cresce a preocupação de lideranças do PL com o impacto da imagem nos palanques eleitorais do próximo ano.

Mesmo sob forte cerco institucional, Bolsonaro tenta manter presença ativa na cena política, organizando reuniões com aliados, articulando candidaturas em diversos estados e mantendo o discurso de que será absolvido pela “história”. A decisão de exibir a tornozeleira pode, nesse contexto, ser lida como parte de uma estratégia midiática para manter-se no centro do debate nacional e reafirmar sua condição de líder político perseguido. Resta saber se, diante das investigações em andamento, essa narrativa resistirá ao peso das provas que a Justiça ainda revelará.

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