quinta-feira, 17 de julho de 2025

BRASIL PREPARA DEFESA DO PIX CONTRA OFENSIVA AMERICANA DE TRUMP E SEUS ALIADOS

Brasil reage ao tarifaço de Trump e articula defesa do Pix como símbolo de soberania digital

Um novo capítulo da tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos se desenrola com força após o anúncio de medidas protecionistas por parte do governo do presidente Donald Trump. Em reação imediata ao chamado “tarifaço”, autoridades brasileiras enviaram uma carta contundente à administração norte-americana, assinada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. No documento, remetido ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio, Jamieson Greer, o Brasil manifesta “profunda indignação” diante das novas tarifas, que afetam diretamente setores estratégicos da economia brasileira. Mas, além das tarifas em si, um novo alvo da Casa Branca provocou especial incômodo em Brasília: o sistema de pagamentos instantâneos Pix.

Criado pelo Banco Central e lançado em 2020, o Pix rapidamente se tornou o principal meio de pagamentos no Brasil, conquistando mais de 160 milhões de usuários e movimentando R$ 26,4 trilhões apenas em 2024. Seu sucesso incomodou instituições financeiras tradicionais e gigantes da tecnologia financeira, como Apple Pay e Google Pay, cujos modelos dependem de tarifas cobradas a cada transação. Agora, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA classifica o Pix como uma possível “prática desleal”, alegando que o sistema brasileiro cria obstáculos à atuação de empresas americanas e distorce a concorrência no setor global de pagamentos eletrônicos.

Essa acusação, no entanto, é vista pelo governo brasileiro como uma tentativa explícita de interferência em uma política pública legítima e consolidada. O Banco Central e o Ministério da Fazenda trabalham em uma resposta técnica e política, destacando a natureza pública, inclusiva e transparente do Pix. Segundo fontes do governo, o posicionamento oficial em defesa do sistema seguirá o mesmo tom da carta já enviada a Washington: firme, diplomático e baseado em dados concretos. A avaliação interna é de que ceder a pressões externas neste caso seria um grave precedente e uma afronta à soberania nacional em matéria de inovação financeira.

A ofensiva americana não se limita ao Pix. O relatório preliminar da investigação aberta pela seção 301 da legislação comercial dos EUA enumera uma série de "atos, políticas e práticas" do Brasil considerados prejudiciais ao comércio americano. Entre os pontos citados estão barreiras não tarifárias, subsídios a setores industriais, permissividade com falsificações e até o desmatamento da Amazônia. Em um dos trechos mais polêmicos, os americanos citam a Rua 25 de Março, centro popular de comércio em São Paulo, como evidência de que o Brasil falha na proteção da propriedade intelectual.

No Congresso Nacional, as lideranças reagiram com raro alinhamento ao lado do Executivo. Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), manifestaram apoio à estratégia do governo e colocaram o Parlamento à disposição para enfrentar a disputa. Ambos se reuniram com o vice-presidente Geraldo Alckmin para discutir a situação e foram informados de que um grupo de senadores deverá viajar a Washington ainda neste mês. O objetivo é abrir canais de diálogo direto com o Congresso americano, buscando esclarecer pontos do modelo brasileiro e desfazer impressões equivocadas que possam estar influenciando a postura da Casa Branca.

Apesar do esforço diplomático, o clima ainda é de incerteza. A avaliação entre diplomatas é que a ausência de uma resposta clara dos EUA indica um vácuo de comando sobre o tema comercial dentro do próprio governo Trump, o que dificulta a construção de uma solução negociada. Enquanto isso, Trump voltou a politizar o embate, aproveitando para elogiar publicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que gerou novo mal-estar nos bastidores. Nos corredores do Itamaraty, o entendimento é que a defesa do Pix, mais do que uma questão técnica, se tornou símbolo de um Brasil que busca afirmar sua autonomia em um cenário de disputas globais cada vez mais agressivas.

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