Serrita, sertão de Pernambuco, foi mais que palco da 55ª edição da tradicional Missa do Vaqueiro neste fim de semana. O município, conhecido por manter viva a memória do vaqueiro nordestino, tornou-se o novo ponto de partida da política estadual com a presença simultânea e simbólica de dois dos principais nomes que se projetam para a sucessão ao Governo do Estado em 2026: a governadora Raquel Lyra e o prefeito do Recife, João Campos, ambos do PSB, mas politicamente distantes. Sob o calor do sertão e o peso dos olhos atentos da classe política local, os dois dividiram a cena com gestos cuidadosamente calculados, carregados de sinais e estratégias de pré-campanha. A imagem dos dois montados em cavalos, lado a lado, com a multidão em volta, não foi apenas para compor o enredo da festa sertaneja — ela sintetiza o novo momento político de Pernambuco, em que os embates já começam a sair dos bastidores para os cenários populares. Enquanto Raquel avança no interior reafirmando sua base rural, João amplia seus passos para além da capital, tentando colar sua imagem à cultura do povo do sertão. Ambos sabiam o que estavam fazendo. Não havia improviso. A governadora, que nos últimos meses intensificou agendas no interior, fez questão de usar sua fala para mandar um recado claro: “aqui, não é palanque político. É tempo de celebrar nossa cultura e a nossa história”, disse Raquel, em um trecho que, embora sem citar nomes, soou como resposta direta à presença do prefeito recifense no evento, que também é marcado por encontros políticos e articulações. O movimento de João, por sua vez, foi calculado. Estar presente em Serrita, no maior evento cultural do sertão pernambucano, significa muito para quem tenta costurar alianças e conquistar espaço entre prefeitos, deputados e lideranças regionais. Ao se mostrar confortável entre vaqueiros e artistas da terra, João envia sua própria mensagem: quer ser mais do que prefeito da capital, quer ser governador. O sertão, que por décadas foi ignorado por grandes disputas políticas no seu início, agora vira ponto de largada e termômetro de aceitação popular. Cada gesto, cada imagem e cada palavra dita na arena simbólica de Serrita carrega mais do que cultura — carrega projeto de poder. Neste fim de semana, a Missa do Vaqueiro foi também uma espécie de batismo de fogo para quem pretende cavalgar até 2026 com força e liderança. E o galope já começou.
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