A pesquisa Atlas Bloomberg divulgada nesta terça-feira mostrou um cenário inédito nos últimos meses: Lula e sua rejeição estão agora em empate técnico. A aprovação do petista subiu de 47,3% para 49,3%, enquanto a desaprovação caiu de 51,8% para 50,3%. Apesar da variação modesta, analistas destacam que o mais importante não é o avanço numérico, mas a interrupção da tendência de queda, que colocava em dúvida até mesmo a disposição de Lula disputar a reeleição em 2026. Com o novo cenário internacional, Lula foi reposicionado na opinião pública como estadista. A retórica de que o Brasil está sendo atacado economicamente por Trump devolveu ao Planalto um protagonismo político que parecia perdido.
Ao explorar o sentimento de indignação da população, o governo conseguiu reverter parte da narrativa que vinha sendo dominada pelo bolsonarismo nas redes sociais. O discurso nacionalista, antes monopolizado pela direita, foi apropriado pelo presidente, que passou a defender os interesses brasileiros frente ao que chamou de “agressão comercial” americana. Dados da mesma pesquisa mostram que 62,2% dos brasileiros consideram as tarifas impostas por Trump injustificáveis, reforçando a visão de que o Brasil está sendo alvo de retaliação injusta. Apenas 36,8% consideram as tarifas justificáveis. Essa percepção coletiva fortaleceu o posicionamento de Lula como liderança respeitada no exterior.
Na guerra de imagens, Lula também venceu. Segundo o levantamento, 61,1% dos entrevistados avaliam que ele tem uma boa imagem internacional, contra 38,8% que atribuíram esse reconhecimento a Jair Bolsonaro. Trata-se de uma inversão significativa da percepção popular, especialmente diante de um cenário eleitoral polarizado e com o ex-presidente do PL ainda aparecendo como principal adversário. Um aliado de Bolsonaro ouvido sob condição de anonimato reconheceu que, se a eleição fosse hoje, Lula sairia vencedor, mas ponderou que esse cenário pode mudar, como ocorreu nos Estados Unidos com presidentes que venceram guerras e perderam nas urnas quando os reflexos econômicos bateram à porta da população.
A avaliação de cientistas políticos, no entanto, é mais cautelosa. O efeito imediato do tarifaço é, de fato, positivo para o governo, mas o risco está nos desdobramentos econômicos a médio prazo. Caso as tarifas não sejam revertidas, o aumento do custo de exportações pode agravar a inflação e impactar diretamente o consumidor brasileiro. O risco é que o mesmo sentimento de orgulho nacional que hoje impulsiona Lula se transforme em frustração e cobrança popular. Por ora, o presidente surfa uma onda favorável, mas a travessia até 2026 será longa e, possivelmente, turbulenta.
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