quarta-feira, 16 de julho de 2025

TARIFAÇO DE TRUMP ELEVA IMAGEM DE LULA E DÁ FÔLEGO AO PLANALTO EM MEIO ÀS TENSÕES POLÍTICAS

O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no último dia 9, teve efeitos imediatos no cenário político brasileiro. Com a decisão norte-americana de elevar em 50% as taxas de importação sobre produtos brasileiros, o impacto foi duplo: atingiu duramente setores do agronegócio e da indústria nacional, mas, ao mesmo tempo, injetou novo oxigênio na combalida popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha enfrentando queda contínua nos índices de aprovação. Ao ser colocado como figura central na narrativa de resistência à ofensiva de uma potência estrangeira, Lula encontrou espaço para se reposicionar como defensor da soberania nacional, um discurso que vinha tentando emplacar sem sucesso até então.

A pesquisa Atlas Bloomberg divulgada nesta terça-feira mostrou um cenário inédito nos últimos meses: Lula e sua rejeição estão agora em empate técnico. A aprovação do petista subiu de 47,3% para 49,3%, enquanto a desaprovação caiu de 51,8% para 50,3%. Apesar da variação modesta, analistas destacam que o mais importante não é o avanço numérico, mas a interrupção da tendência de queda, que colocava em dúvida até mesmo a disposição de Lula disputar a reeleição em 2026. Com o novo cenário internacional, Lula foi reposicionado na opinião pública como estadista. A retórica de que o Brasil está sendo atacado economicamente por Trump devolveu ao Planalto um protagonismo político que parecia perdido.

Ao explorar o sentimento de indignação da população, o governo conseguiu reverter parte da narrativa que vinha sendo dominada pelo bolsonarismo nas redes sociais. O discurso nacionalista, antes monopolizado pela direita, foi apropriado pelo presidente, que passou a defender os interesses brasileiros frente ao que chamou de “agressão comercial” americana. Dados da mesma pesquisa mostram que 62,2% dos brasileiros consideram as tarifas impostas por Trump injustificáveis, reforçando a visão de que o Brasil está sendo alvo de retaliação injusta. Apenas 36,8% consideram as tarifas justificáveis. Essa percepção coletiva fortaleceu o posicionamento de Lula como liderança respeitada no exterior.

Na guerra de imagens, Lula também venceu. Segundo o levantamento, 61,1% dos entrevistados avaliam que ele tem uma boa imagem internacional, contra 38,8% que atribuíram esse reconhecimento a Jair Bolsonaro. Trata-se de uma inversão significativa da percepção popular, especialmente diante de um cenário eleitoral polarizado e com o ex-presidente do PL ainda aparecendo como principal adversário. Um aliado de Bolsonaro ouvido sob condição de anonimato reconheceu que, se a eleição fosse hoje, Lula sairia vencedor, mas ponderou que esse cenário pode mudar, como ocorreu nos Estados Unidos com presidentes que venceram guerras e perderam nas urnas quando os reflexos econômicos bateram à porta da população.

A avaliação de cientistas políticos, no entanto, é mais cautelosa. O efeito imediato do tarifaço é, de fato, positivo para o governo, mas o risco está nos desdobramentos econômicos a médio prazo. Caso as tarifas não sejam revertidas, o aumento do custo de exportações pode agravar a inflação e impactar diretamente o consumidor brasileiro. O risco é que o mesmo sentimento de orgulho nacional que hoje impulsiona Lula se transforme em frustração e cobrança popular. Por ora, o presidente surfa uma onda favorável, mas a travessia até 2026 será longa e, possivelmente, turbulenta.

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