No momento da assinatura do decreto que oficializa o aumento tarifário, Trump surpreendeu ao retirar da lista de produtos que sofreriam a taxação majorada alguns itens de alto valor estratégico e comercial. Entre os bens poupados do tarifaço estão o suco de laranja — cujo consumo interno nos Estados Unidos tem grande participação de fornecedores brasileiros —, os aviões fabricados pela Embraer, o petróleo bruto, o minério de ferro e a celulose. Esses itens, embora escapem da alíquota de 50%, continuarão submetidos à tarifa de 10% já existente, o que ainda representa um desafio, mas não tão severo quanto o aumento proposto inicialmente.
Nos bastidores diplomáticos e empresariais, a leitura é de que o poderoso lobby de grandes empresas americanas que mantêm relação estreita com fornecedores brasileiros teve papel decisivo na reformulação parcial da medida. Corporações do setor aéreo, de energia, siderurgia e papel e celulose teriam pressionado Washington para evitar o impacto direto sobre suas próprias cadeias de produção e abastecimento, o que, em tempos de economia instável, poderia gerar reflexos indesejáveis no consumo interno dos Estados Unidos.
A decisão de Trump de criar exceções à nova tarifa foi recebida com alívio por representantes da indústria exportadora brasileira, que veem no gesto uma abertura para possíveis negociações futuras. Ainda que o cenário permaneça tenso, o fato de alguns produtos estratégicos terem escapado da alta acentuada acende uma luz de esperança para outros segmentos econômicos, que agora intensificam suas articulações em busca de novos acordos bilaterais ou ao menos da postergação de medidas que possam comprometer sua competitividade internacional.
O gesto de “boa vontade seletiva” por parte da Casa Branca não apaga a sinalização protecionista da nova diretriz comercial, mas aponta para uma dinâmica mais complexa nas relações entre os dois países. Ao mesmo tempo em que endurece o discurso para sua base política interna, Trump parece manter uma margem de manobra voltada à preservação de setores econômicos que dependem diretamente da integração com mercados como o brasileiro. O adiamento do tarifaço, mesmo que breve, também é visto como uma tentativa de ganhar tempo para calibrar as consequências políticas e econômicas da decisão.
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