terça-feira, 19 de agosto de 2025

COLUNA POLITICA | ALEPE | NA LUPA 🔎 | POR EDNEY SOUTO

JOGADA REGIMENTAL NA ALEPE EMBARALHA CAMPOS DE OPOSIÇÃO E GOVERNO
UM XEQUE-MATE NO REGIMENTO

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) viveu nesta segunda-feira (18) uma das manobras políticas mais ousadas da atual legislatura. Três deputados estaduais do PSB – Waldemar Borges, Diogo Moraes e Júnior Matuto – se desfiliaram da sigla após receberem carta de anuência assinada pelo presidente estadual do partido, Sileno Guedes. O movimento foi cirúrgico: garantir maioria da oposição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará contratos do governo Raquel Lyra. A jogada, feita dentro das brechas do Regimento Interno, mudou o xadrez político da Casa de forma imediata. Vamos dar uma passada NA LUPA. 

A DANÇA DAS CADEIRAS
Com as cartas de anuência em mãos, os três parlamentares se deslocaram para ocupar vagas no MDB, no PRD e no PSDB. As mudanças, embora inesperadas para parte da base governista, estavam totalmente calculados para permitir à oposição controlar os principais postos da CPI. Ao deixar o PSB, os deputados ampliaram o bloco oposicionista, que agora se fortalece em meio à instalação da comissão. A movimentação embaralhou as alianças e reduziu o peso da base governista dentro da Assembleia.

A BASE DE RAQUEL ENCOLHEU DE MOMENTO
O resultado imediato da jogada foi a fragilização do governo. O bloco governista, que até então contava com maioria sólida, agora soma 19 parlamentares distribuídos em três grupos: quatro do Solidariedade, sete da federação PV, PCdoB e PT, além de oito do PP. Mesmo com esses números, a oposição conseguiu assegurar maioria estratégica dentro da CPI, abrindo espaço para pautar investigações que podem constranger a gestão de Raquel Lyra.

O CALENDÁRIO DA CPI
A CPI foi oficialmente instalada em 4 de agosto e teve até esta segunda (18) o prazo final para indicações de membros. A primeira reunião está marcada para esta terça-feira (19), às 8h, quando serão escolhidos presidente e relator. A expectativa é que os trabalhos ganhem ritmo acelerado, já que a oposição deseja explorar politicamente eventuais fragilidades administrativas do governo. A pauta da comissão é a investigação de contratos, mas o pano de fundo é a disputa pelo protagonismo político rumo a 2026. A expectativa que Antônio Coelho seja indicado para presidente.

O ARGUMENTO DA LEGALIDADE
Do ponto de vista jurídico, a operação foi cuidadosamente planejada. Em tese, os deputados não poderiam trocar de partido fora da janela de 2026, sob pena de perda de mandato por infidelidade partidária. Porém, com a anuência formal assinada por Sileno Guedes, não há como suplentes ou o próprio partido questionarem a saída. Trata-se de um precedente inédito: a abertura de espaço para mudanças partidárias em nome da estratégia política de composição de comissões. Um advogado ouvido em reserva classificou o movimento como “uma inovação não prevista em lei”. Um drible na constituição e nas leis de fidelidade partidária para se jogar o jogo político.

A POSSÍVEL REAÇÃO GOVERNISTA
O governo não deve ficar de braços cruzados. Parlamentares ligados a Raquel Lyra estudam judicializar a questão. A tese em construção é a de que houve simulação de troca partidária apenas para alterar a correlação de forças dentro da CPI. Nesse caso, poderia haver questionamento junto à Justiça Eleitoral por ausência de justa causa. O Ministério Público Eleitoral, em tese, também poderia ingressar com ação sobre eventual violação da fidelidade partidária. Ainda assim, a oposição se protegeu com documentos oficiais, fechando quase todas as brechas. Porém quase não são todas.

A POLÍTICA COMO JOGO ANTECIPADO
O episódio revela que a eleição de 2026 já começou, ao menos na Alepe. Cada movimento, cada articulação e cada discurso têm como pano de fundo o futuro embate entre oposição e governo. A CPI, embora de caráter fiscalizador, ganhou contornos eleitorais evidentes. O governismo vê um ataque direto ao núcleo da gestão Raquel Lyra, enquanto a oposição enxerga uma oportunidade de desgastar a imagem da governadora e pavimentar terreno para a próxima disputa.Os ataques só vão aumentar de ambos os lados.

UM FUTURO DE RADICALIZAÇÃO
O fato é que a jogada regimental mexeu no equilíbrio de forças. Mais do que investigar contratos, a CPI será palco de embates intensos e narrativas opostas. De um lado, a oposição vai explorar cada detalhe para desgastar o governo. De outro, o Palácio do Campo das Princesas prepara contra-ataques jurídicos e políticos. O tabuleiro está montado. E como sempre em Pernambuco, a política não espera o calendário oficial das urnas. A radicalização é um caminho quase inevitável. É isso aí. 

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