Por Edney Souto
Encontrei essa foto no perfil “Garanhuns História” no Facebook e fui tomado pela curiosidade. Como ex-aluno do Colégio Santa Sofia, sempre ouvi boatos de que ali já existira um cemitério — mas, sinceramente, achava que era só uma daquelas lendas criadas para assustar estudantes. Resolvi pesquisar. E, para minha surpresa, era tudo verdade. A imagem, datada de 1893, mostra a antiga Matriz de Santo Antônio e, ao lado esquerdo, o terreno que na época funcionava como cemitério municipal — justamente onde hoje está instalado o colégio que marcou minha infância e a de tantos garanhuenses.
O registro histórico foi feito pelo fotógrafo francês E. Tonelle e integra o acervo digital do Museu Francês Gallica. Na fotografia, a Matriz ainda exibe sua fachada original, anterior à grande reforma de 1906 a 1909, quando passou por uma transformação arquitetônica que a aproximou da estrutura atual da Catedral de Santo Antônio, símbolo da fé e do patrimônio cultural da cidade.
A igreja retratada foi construída entre 1855 e 1859, por iniciativa do padre Nemézio de São João Gualberto, e passou por sua primeira reconstrução em 1872. A reforma do início do século XX foi decisiva para sua elevação, em 1918, à condição de Catedral com a criação da Diocese de Garanhuns. A imponência do novo projeto, de estilo eclético, acompanhou o crescimento urbano e espiritual da cidade.
Ao lado da igreja, o cemitério funcionava como o principal campo santo da cidade no fim do século XIX. Foi desativado no início do século XX e, sobre ele, ergueu-se o Colégio Santa Sofia, fundado em 18 de janeiro de 1912 pelas religiosas da Congregação de Nossa Senhora. O colégio começou no Chalé Suíço, mas consolidou-se naquele mesmo terreno, transformando um espaço de memória e despedida em um local de formação e futuro.
Hoje, ao ver a fotografia, é impossível não refletir sobre a força simbólica dessa transição. Aquele solo já recebeu orações de luto, hoje acolhe crianças em fase de descoberta. Onde antes havia túmulos, agora há salas de aula. Onde se velava o fim, hoje se celebra o recomeço.
Para quem, como eu, cresceu ali acreditando que o "cemitério debaixo do colégio" era só mais uma história para deixar os alunos nervosos, esse registro é uma revelação fascinante. Ele conecta o passado ao presente com uma nitidez que só a memória preservada pode oferecer. Mais do que uma imagem, trata-se de um testemunho silencioso da transformação de Garanhuns — uma cidade que, como sua Catedral e seu colégio centenário, carrega em cada pedra e em cada lenda uma parte viva da história. É isso, Garanhuns e suas surpresas!
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