Um relatório do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) expôs um grave escândalo envolvendo a gestão de recursos públicos em São Bento do Una, no Agreste. A auditoria, que analisou os exercícios financeiros entre 2021 e 2025, identificou desvios e gastos irregulares que somam quase R$ 1 milhão, atingindo diretamente as áreas mais sensíveis do município: Educação e Saúde. Segundo o documento, as verbas, que deveriam garantir melhores condições de ensino e atendimento à população, foram utilizadas para custear despesas sem qualquer relação com as finalidades legais.
Na Secretaria de Educação, sob o comando de Gisangella Cavalcanti, os auditores detectaram o uso indevido de recursos do Fundeb, o principal fundo destinado à manutenção da educação básica. Entre as irregularidades, está a compra de cinco veículos de passeio — dois Fiat Strada, dois Fiat Argo e uma Chevrolet Spin — além da contratação de seguros automotivos pagos com dinheiro público da Educação. O TCE considerou as despesas ilegais, por não contribuírem diretamente para a melhoria das escolas, da infraestrutura educacional ou para a valorização dos profissionais da área.
Mesmo após ser notificada, a secretária não conseguiu comprovar que os carros eram utilizados em atividades pedagógicas ou administrativas ligadas ao ensino. Segundo o relatório, os veículos teriam sido empregados em ações diversas, sem vínculo com o setor educacional. O caso, para os auditores, representa um desvio de finalidade claro e um mau uso dos recursos do Fundeb.
Situação semelhante foi encontrada na Secretaria Municipal de Saúde, comandada por Dalma Noely, onde o Tribunal identificou o uso de verbas do Fundo Municipal de Saúde para custear despesas completamente estranhas à área. Entre os pagamentos irregulares, chamam atenção gastos com fogos de artifício, picolés, multas de trânsito, serviços de propaganda e honorários de um escritório de advocacia que, segundo o próprio TCE-PE, teria prestado serviços de defesa pessoal à secretária, e não à Prefeitura.
O relatório classificou essas despesas como desvios de finalidade, determinando que os valores pagos indevidamente sejam devolvidos aos cofres públicos. A auditoria apontou que cerca de R$ 753 mil foram desviados da Educação e R$ 130 mil da Saúde, totalizando R$ 883 mil de recursos públicos aplicados de forma irregular. Além da devolução, o Tribunal aplicou multas individuais às duas gestoras.
A investigação teve início a partir de uma denúncia apresentada pelo vereador Sidcley do Hospital (PP), conhecido por sua atuação em defesa da transparência na gestão municipal. O parlamentar afirmou que vinha recebendo constantes reclamações da população e servidores sobre o mau uso de recursos e decidiu formalizar a denúncia ao órgão fiscalizador.
O caso causou forte repercussão na cidade, onde professores, profissionais de saúde e moradores manifestaram indignação diante das revelações. O relatório do TCE-PE agora segue para análise do Ministério Público de Contas e pode resultar em ações civis e penais contra as gestoras envolvidas.
Até o momento, as Secretarias de Educação e Saúde de São Bento do Una não emitiram nota oficial ou apresentaram justificativas públicas sobre as conclusões do Tribunal. Enquanto isso, a população cobra explicações e transparência sobre o destino do dinheiro que deveria garantir escolas mais estruturadas e um atendimento de saúde digno para todos.
Fotos: Divulgação
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