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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

ARTIGO - O ELEITOR É O GRANDE CULPADO PELA CORRUPÇÃO NA POLÍTICA

UM ARTIGO IRÔNICO, SARCÁSTICO E DELICIOSAMENTE ANÁRQUICO

POR EDNEY SOUTO
Preparem seus cintos, queridos leitores. Hoje vamos falar sobre aquela figura folclórica, aquela entidade transcendental que surge a cada dois anos com um sorriso no rosto e a consciência no débito: o eleitor brasileiro. Sim, ele mesmo o ser iluminado que aponta o dedo para políticos corruptos enquanto a outra mão já está devidamente estendida, esperando o famoso “agrado”, “ajudinha”, “combustível”, “café”, “tijolo”, “dentadura”, “pix simbólico”. Escolha o eufemismo que quiser. A semântica é rica, mas a ética… bem, essa passa fome.

Muito se fala sobre os políticos corruptos, esses vilões cinematográficos que supostamente controlam tudo. Mas pouca gente tem coragem de mencionar o verdadeiro chefão da máfia eleitoral: o eleitor corrupto, o pior dos corruptos, o mais silencioso e o mais covarde. Aquele que finge indignação, compartilha fake news, vai para a rua gritar palavras de ordem… e na calada da noite entrega o voto como quem negocia uma galinha na feira. E ainda tem a cara de pau de repetir, como um mantra, a velha frase: “Cada cidade tem o governo que merece.” Ah, minha gente… Não é só uma frase. É praticamente um epitáfio democrático. A política, no fim das contas, é só o espelho da sociedade e às vezes esse espelho está tão rachado que dá até medo de olhar de frente.

Porque sejamos sinceros: o radicalismo político virou esporte nacional. Tem torcedor de futebol que parece moderado perto de certos eleitores que acreditam piamente em qualquer narrativa, desde chips em vacinas até planos secretos para transformar o planeta numa colônia de lagartos comunistas. Análise? Racionalidade? Senso crítico? Isso é para fracos. O negócio é acreditar com força, compartilhar com fé e pensar jamais. E quando o país entra em crise, quando o desastre bate na porta, quando os governantes mostram sua incompetência com brilho profissional… aí o eleitor aparece com a cara lavada, indignado, clamando por justiça divina. Mas quem colocou o incompetente lá?
Ele. Ele mesmo. O eleitor  o arquiteto do caos.

E o mais irônico é que a conta chega para todos: para quem votou, para quem vendeu o voto, para quem só estava passando na rua. O preço da corrupção não tem desconto nem cashback. A tragédia política é coletiva, e o responsável por acionar a bomba é justamente quem finge que não tem nada a ver com isso. Mas o Brasil, coitado, insiste em tentar.
Quer consertar a política?
Quer limpar o sistema eleitoral?
Quer modernizar o país?

Pois comece pelo óbvio: formar cidadãos. Ensinar que voto não é mercadoria, que democracia não é bazar e que vender o voto é, sim, comportamento de bandido, ainda que disfarçado de “pessoa simples que precisa ajudar a família”. Ajudar a família com cinquenta reais hoje e condená-la a quatro anos de miséria depois: uma verdadeira técnica avançada de auto-sabotagem patriótica.

O eleitor corrupto é a chave da desgraça política. É a raiz do problema, o início da queda, o tijolo torto da obra que nunca fica em pé. E ninguém gosta de ouvir isso, porque dói. E quando dói, quase sempre é verdade. Mas calma. Ainda há esperança.
Não muita, mas há.
Uma pitadinha. O dia em que o eleitor parar de agir como sócio oculto da corrupção, talvez, só talvez, o Brasil descubra que democracia não é uma ficção científica. Até lá, seguimos nesse espetáculo tragicômico chamado política nacional, em que o grande vilão anda de chinelo, mora na rua de trás e jura de pés juntos que “odeia político ladrão”. Pois é. Se não fosse trágico, seria cômico.
E se não fosse cômico, seria Brasil.

*Jornalista, Editor do Blog do Edney.

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