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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

MARÍLIA ARRAES MANTÉM CENÁRIO DE INCERTEZA E VOLTA A TESTAR LIMITES DA FRENTE POPULAR

A movimentação discreta, porém calculada, de Marília Arraes reacendeu um clima de observação e cautela no tabuleiro político de 2026. A ex-deputada federal, que migrou para o Solidariedade após a ruptura com o PT e o PSB, admite novamente a hipótese de uma candidatura avulsa ao Senado caso não seja contemplada na chapa majoritária que será comandada por João Campos. A sinalização acontece no momento em que o segundo espaço da chapa começa a ganhar contornos mais nítidos e pesa, com cada vez maior consistência, o nome do ministro Silvio Costa Filho, que passou a orbitar o centro das negociações com apoio de setores determinantes da Frente Popular.

A lembrança de 2022 ainda paira como sombra e aviso. Marília, insistindo em um projeto próprio e distante das costuras estratégicas do campo progressista, decidiu enfrentar a engrenagem que sustentava Danilo Cabral. O resultado foi a fragmentação visível de votos que, historicamente, pertenciam ao espectro de esquerda e que, diante da ruptura, desaguaram em parte na própria Marília, mas, sobretudo, aceleraram a derrocada do candidato oficial do grupo. Agora, o cenário é outro, mas as lições permanecem. A Frente Popular está mais estruturada, o PSB retoma musculatura nacional com a força institucional de João Campos e o PT, ao contrário de 2022, não tem espaço para vacilações. Lula deverá ser peça central na condução da campanha e, com o peso eleitoral que detém em Pernambuco, se transformará no motor de equilíbrio para as duas vagas ao Senado que serão apresentadas pela aliança.

A equação, dessa vez, coloca Marília diante de variáveis que não controlará. Nenhuma articulação indica que Lula cogite participar de campanha paralela ou reforçar nome dissidente. Nos bastidores, a compreensão é óbvia: o presidente não abrirá espaço para dúvidas, ruídos ou interpretações que remetam a infidelidade programática. Ao empunhar as bandeiras dos dois senadores da Frente Popular, Lula reforçará o pacto firmado entre PT, PSB e Republicanos, sepultando qualquer expectativa de apoio informal ou meias palavras que possam favorecer quem não estiver dentro da aliança.

Marília Arraes, que costuma surgir bem posicionada nas primeiras leituras de pesquisa e se apresentar como resposta à fadiga da política tradicional, terá de encarar a lembrança de 2022 no momento em que decidir testar, novamente, sua força isolada. O histórico mostra que o fôlego inicial costuma se dissolver ao longo da campanha, quando tempo de televisão, estrutura partidária, palanque presidencial e capilaridade nacional começam a operar no corpo a corpo do eleitorado. Ao desenhar um movimento solitário, Marília assume risco maior do que o cálculo superficial sugere: desta vez não se trata apenas de entrar no jogo, mas de sustentar-se nele sem a retaguarda que, em Pernambuco, sempre teve nome, sobrenome e endereço — a Frente Popular.

A eventual candidatura avulsa, portanto, mais do que uma repetição tática de 2022, seria um gesto de sobrevivência política sem a certeza do retorno. O fato é que Marília sabe que sonhar não é proibido, mas, no cenário atual, a realidade cobra pragmatismo, disciplina de bloco e obediência ao centro de gravidade que, neste ciclo, não estará à deriva, e sim sob a voz e a influência direta de Lula.

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