E é justamente nesse ponto que a narrativa sofre torção. A denúncia apresentada pelo vice-prefeito Antonio Leite, que protocolou pedido de cassação na Câmara, aparece como expressão do desconforto de um grupo que não suportou o protagonismo feminino, popular e tecnicamente incontestável de Riva. Ao invés de disputa programática ou divergência institucional, a tentativa virou símbolo de algo mais profundo: a dificuldade de aceitar que o poder, hoje, não se conquista no grito, na sombra ou na barganha — mas no voto, na entrega e no reconhecimento diário da população.
O argumento jurídico, segundo quem acompanha os bastidores, não se sustenta nem no texto nem na prática, e esse é talvez o ponto mais emblemático. O ataque não será lembrado pela robustez legal, mas pela motivação política. A própria prefeita, com a firmeza que vem marcando seu estilo, classificou a investida como tentativa de golpe e ato desesperado de quem não teria qualquer possibilidade de enfrentá-la nas urnas. A metáfora usada por aliados, repetida nas rodas de conversa da cidade, reforça o sentimento de frustração: ao formar a chapa, Riva não colocou um vice — colocou, sem perceber, uma cobra cascavel ao seu lado.
O constrangimento se alarga quando atinge o próprio núcleo de Antonio Leite. O vereador Miguel Leite, irmão do vice, rompeu o silêncio e se posicionou publicamente contra a tentativa de cassação, expondo fissuras que escapam do campo político e alcançam o terreno familiar. Cedro assistiu, perplexo, à revelação de que nem entre os seus o vice encontra sustentação para o movimento mais arriscado de sua trajetória.
Nesse quadro, o episódio passa a ser entendido como marcador histórico do município: uma cidade que, depois de experimentar estabilidade, desenvolvimento e administração técnica, se recusa a retornar à lógica da chantagem, do revanchismo e da interrupção pelo atalho. O voto, em Cedro, não é apenas registro eletrônico — é pacto social. E pactos, quando firmados com 94% de aprovação, não se rompem em gabinete, nem se rasgam em papel timbrado.
Riva Bezerra, ao defender o mandato, defende mais que o próprio projeto. Defende o direito da população de manter o rumo administrativo que escolheu. Defende a legitimidade do futuro frente à nostalgia de um poder que não aceita ter sido ultrapassado. Defende, sobretudo, a ideia de que governar é servir, não subjugar.
A tentativa de golpe pode ecoar nos corredores e alimentar estratégias de bastidores, mas diante da força de quem governa com resultado e da percepção clara do povo sobre o que está em jogo, tende a se dissolver na mesma velocidade com que foi articulada. Cedro viu o que pode ser um governo que funciona — e não há veneno político suficientemente potente para desfazer essa memória coletiva.
A cobra, enfim, mostrou o bote. Resta saber se o veneno será suficiente para atingir quem aprendeu, justamente no contato com o povo, a ser imune à política do atraso e da submissão.
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