Escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda na montagem do primeiro escalão do governo, o pernambucano Wolney Queiroz finalmente chega ao comando do Ministério da Previdência Social, em meio a uma das maiores crises recentes do INSS. Embora o cargo tenha sido inicialmente entregue ao pedetista Carlos Lupi, que exerceu forte pressão política para garantir a indicação em 2023, a revelação de um esquema bilionário de fraudes envolvendo aposentadorias e pensões, no valor de R\$ 6,3 bilhões, tornou insustentável a permanência de Lupi à frente da pasta. Pressionado pela gravidade das denúncias e pelo desgaste que atingiu não apenas o ministério, mas também a imagem do governo, Lupi formalizou sua saída nesta sexta-feira (2), abrindo caminho para que Wolney, que vinha atuando como secretário executivo, fosse oficializado pelo Palácio do Planalto como novo ministro.
Natural de Pernambuco, com seis mandatos de deputado federal no currículo e experiência acumulada na articulação política em Brasília, Wolney Queiroz assume o desafio com a tarefa de restaurar a credibilidade da Previdência Social, num momento em que a oposição já se mobiliza para aprofundar as investigações sobre as fraudes. Um requerimento para a criação da CPI do INSS foi protocolado na Câmara na última quarta-feira (30), com assinatura de 185 parlamentares, incluindo sete representantes de Pernambuco: André Ferreira (PL), Coronel Meira (PL), Fernando Rodolfo (PL), Pastor Eurico (PL), Mendonça Filho (União Brasil), Ossesio Silva (Republicanos) e Clarissa Tércio (PP). Chama atenção que, entre eles, três pertencem a partidos que ocupam ministérios no próprio governo Lula, o que evidencia a pressão transversal que Wolney terá de enfrentar dentro e fora da base aliada.
O novo ministro terá pela frente não apenas a missão administrativa de estancar a crise e reestruturar os sistemas de controle do INSS, mas também o desafio político de blindar o ministério dos ataques que tendem a se intensificar com a instalação da CPI. A boa relação que Wolney mantém com a Câmara, fruto de sua longa trajetória como parlamentar, é vista no Planalto como um trunfo importante para tentar conter a escalada da crise. Habilidoso, o pernambucano sabe que sua performance à frente da Previdência pode ser decisiva para o futuro político que almeja. Em 2026, ele pretende retornar à Câmara Federal e, para isso, precisará se desincompatibilizar do cargo seis meses antes da eleição, o que torna o período à frente do ministério uma grande vitrine para se fortalecer junto ao eleitorado e consolidar apoios.
A escolha de Wolney também reforça a presença de Pernambuco no núcleo duro do governo Lula, já que o estado passa a contar agora com sete ministros. Além dele, estão no primeiro escalão André de Paula, que comanda o Ministério da Pesca e Aquicultura; Frederico Siqueira, titular das Comunicações; José Múcio Monteiro, na Defesa; Jorge Messias, à frente da Advocacia-Geral da União; Luciana Santos, que chefia o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; e Silvio Costa Filho, que ocupa a pasta de Portos e Aeroportos. Essa concentração de pernambucanos em postos-chave do governo federal é vista com atenção nos bastidores da política, principalmente num momento em que Lula busca recompor sua base e enfrentar o avanço da oposição no Congresso.
No olho do furacão, Wolney Queiroz chega ao ministério em condições políticas melhores que seu antecessor, com a confiança direta do presidente e respaldo na Câmara. Contudo, o desgaste provocado pelo escândalo de fraudes já instalou um ambiente de desconfiança que exigirá habilidade redobrada para ser superado. O ministro precisará não apenas administrar a crise atual, mas também construir uma agenda positiva capaz de virar a página e devolver à Previdência Social a imagem de um órgão confiável aos olhos da população e do Parlamento.