No texto publicado nesta segunda-feira (14), em sua conta na rede X (antigo Twitter), o ex-presidente afirmou que não se trata apenas de afastá-lo da cena política, mas de uma suposta tentativa de “destruí-lo por completo”. “Eliminar fisicamente, como já tentaram”, escreveu Bolsonaro, insinuando que já teria sido alvo de planos para assassiná-lo. Em tom apocalíptico, o ex-mandatário alertou que, após ele, os alvos serão os cidadãos comuns, suas famílias, sua fé e sua liberdade. O ex-presidente não cita diretamente nomes de ministros do STF, nem o procurador-geral da República, Paulo Gonet, nem o relator da ação, ministro Alexandre de Moraes, mas aponta para uma suposta articulação entre setores do Judiciário, da imprensa e da elite política brasileira.
As declarações surgem em um contexto no qual a defesa de Bolsonaro busca transformar sua situação jurídica em uma narrativa de vitimização, com forte apelo emocional, calcada na ideia de que ele representa o “povo de bem” contra instituições que estariam agindo politicamente. Essa estratégia inclui o uso constante das redes sociais e de eventos públicos para mobilizar apoiadores e pressionar autoridades. Segundo as investigações, a chamada “trama golpista” teve início logo após a derrota de Bolsonaro nas urnas, quando ele e seus aliados passaram a divulgar acusações infundadas de fraude no sistema eleitoral, estimular atos antidemocráticos e planejar formas de manter o ex-presidente no poder.
Além do discurso interno, há também um componente internacional na tentativa de blindagem de Bolsonaro. Desde que Donald Trump retomou o protagonismo político nos Estados Unidos, aliados do ex-presidente brasileiro têm buscado apoio na direita norte-americana. Recentemente, a nova medida tarifária imposta pelo governo Trump contra produtos brasileiros — com aumento de 50% nas taxas de importação — vem sendo interpretada como uma retaliação velada às ações da Justiça brasileira contra Bolsonaro. A movimentação busca sugerir uma ingerência externa na defesa do ex-presidente, convertendo a disputa judicial em uma espécie de conflito ideológico global.
No mesmo texto publicado nesta segunda-feira, Bolsonaro acusa seus adversários de tentar calar opositores “com censura, ameaças, inquéritos, prisão ou até com a morte”. A publicação, que foi amplamente compartilhada por seus apoiadores, reforça a retórica de que há uma perseguição generalizada contra aqueles que se opõem ao atual governo e ao sistema de Justiça. A defesa pública do ex-presidente tem apostado em uma escalada do discurso alarmista para reacender a mobilização de sua base, especialmente no momento em que se aproxima o julgamento do caso no STF, que pode levá-lo à prisão.
Embora Bolsonaro tenha sido tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele ainda mantém forte influência sobre o eleitorado conservador e sobre lideranças do Partido Liberal, que planejam utilizar sua imagem nas campanhas municipais deste ano. O ex-presidente busca manter seu capital político ativo mesmo diante das restrições legais, recorrendo a frases de efeito, teorias conspiratórias e comparações históricas para reforçar sua posição como suposta vítima de um sistema corrupto. O desfecho do processo que o acusa de liderar uma tentativa de golpe deve marcar um novo capítulo na polarização política do país e pode redesenhar os rumos da direita brasileira nas eleições de 2026.