Embora o motivo oficial da visita fosse a expansão da Rnest, Lula desviou do script e abriu o coração. Preferiu falar da dor, da indignação e do compromisso que carrega após ver, dentro de casa, sua esposa, a primeira-dama Janja Lula da Silva, chorar repetidas vezes diante das notícias brutais que chocaram o Brasil nas últimas semanas. Segundo o presidente, foi ela quem o impulsionou a assumir publicamente uma cruzada nacional contra a violência doméstica.
“Hoje no avião, ela pediu para mim: assuma a responsabilidade de uma luta mais dura contra a violência dos homens contra a vida das mulheres”, relatou Lula, visivelmente emocionado. O pedido ecoou no palanque e encontrou apoio imediato na plateia, que reagiu com aplausos fortes e longos.
UMA EDUCAÇÃO DE RESPEITO
Lula também recorreu às memórias pessoais para ilustrar um Brasil que precisa urgentemente reencontrar valores básicos. Recordou a educação recebida de sua mãe, Dona Lindu, analfabeta, mas firme no ensinamento que moldou sua vida: jamais levantar a mão contra uma mulher. “Se você se casar e não tiver bem com a sua mulher, se separe dela, mas nunca levante a mão para bater”, citou.
A fala, simples e poderosa, contrastou com a violência que se tornou rotina no noticiário nacional. O presidente questionou diretamente se o Código Penal brasileiro é capaz de responder à altura dos ataques brutais cometidos contra mulheres.
OS CASOS QUE CHOCARAM O PAÍS
No discurso, Lula rememorou algumas das tragédias recentes que têm marcado o Brasil. Entre elas, o caso devastador de um homem que incendiou a própria casa no Recife, matando a esposa e quatro filhos. Em São Paulo, destacou o episódio no qual uma mulher foi atropelada e arrastada por um quilômetro pelo ex-companheiro — agressão que resultou na amputação de suas duas pernas. Citou ainda o ataque em Natal, onde uma jovem recebeu 60 socos no rosto dentro de um elevador, cena que correu o país com indignação.
Lula foi categórico: “A pergunta que eu faço é: o Código Penal brasileiro tem pena para fazer justiça a um animal irracional como esse?”. A comparação direta, que chocou e repercutiu fortemente, mostrou o grau de indignação do presidente diante da impunidade que ainda persiste.
O CHAMADO – UM MOVIMENTO NACIONAL DOS HOMENS
Em um dos momentos mais fortes, Lula convocou todos os homens do país a assumirem a responsabilidade de combater a violência contra as mulheres. Disse que o combate não é tarefa apenas do Estado, mas sobretudo de cada cidadão, de cada pai, irmão, marido ou amigo.
“Cada um de nós homens precisamos ser um professor do outro homem. É preciso que haja o movimento nacional dos homens. Estamos precisando de caráter, dignidade, respeito às nossas companheiras, às mulheres, que se não fossem elas a gente nem existia”, reforçou.
O chamado ecoou como um marco político e social, dada a postura inédita de um presidente brasileiro transformar um evento técnico em um grito nacional por justiça, empatia e proteção.
UM PRONUNCIAMENTO QUE JÁ ENTRA PARA A HISTÓRIA
O discurso de Lula, inesperado, emocional e duro, rapidamente ganhou repercussão nacional. Parlamentares, organizações feministas, coletivos de direitos humanos e cidadãos nas redes sociais passaram a comentar o tom histórico da fala, considerada por muitos como um divisor de águas na abordagem do governo sobre violência de gênero.
Mais do que palavras, o país agora aguarda os próximos passos. Mas uma certeza ficou do ato em Ipojuca: o presidente decidiu colocar a luta pela vida das mulheres no centro da agenda pública — e fez isso com a força de quem sente a urgência que milhões de brasileiras vivem todos os dias.