NA LUPA ESPECIAL | O VINHO GENGIBRE QUENTINHO DE CACHOEIRINHA: O SABOR QUE VIROU PATRIMÔNIO DO AGRESTE
A TRADIÇÃO QUE NASCEU NO CORAÇÃO DAS FEIRAS LIVRES
Em Cachoeirinha, no Agreste pernambucano, poucos símbolos culturais são tão fortes quanto o Vinho Gengibre Quentinho, bebida que aquece os feirantes nas madrugadas frias e mantém viva uma tradição que atravessa gerações. O aroma marcante do gengibre fresco, o toque adocicado do vinho artesanal e a sensação de conforto imediato transformaram o “quentinho” em um patrimônio afetivo da região. Não há quem frequente a feira de Cachoeirinha — uma das mais antigas e movimentadas do Agreste — e não reconheça o valor histórico dessa receita que se tornou parte da identidade do município.
AS PRIMEIRAS PANELAS: UMA HISTÓRIA QUE COMEÇOU NOS ANOS 1970
A origem da bebida remonta aos anos 1970, quando agricultores e comerciantes buscavam alternativas para enfrentar o frio que fazia nas primeiras horas da feira. Uma das primeiras famílias a preparar o vinho com gengibre, segundo relatos populares, foi a de pequenos comerciantes que serviam a bebida em tachos de alumínio, aquecidos em fogareiros improvisados. A mistura, que começou tímida, logo conquistou feirantes e trabalhadores rurais pela praticidade e pelo sabor único.
Com o passar do tempo, outras famílias aprenderam a receita e passaram a produzir também, sempre de forma artesanal e mantendo o segredo do preparo — tradição que se transmite de pais para filhos até hoje.
DO REMÉDIO CASEIRO AO ÍCONE CULTURAL REGIONAL
O uso do gengibre não é por acaso: além do sabor, ele tem forte presença na medicina popular nordestina. Era comum que, décadas atrás, os moradores do Agreste utilizassem gengibre para aliviar gripes, resfriados, dores de garganta e até para melhorar a circulação. A ideia de misturá-lo ao vinho surgiu de forma natural, transformando dois elementos abundantes na região em uma bebida que unia sabor, calor e funcionalidade.
Assim, o que começou como remédio caseiro evoluiu para um produto cultural, vendido em copos fumegantes que se tornaram parte fundamental da experiência das feiras de Cachoeirinha.
OS GUARDIÕES DO SABOR: AS FAMÍLIAS QUE MANTÊM A TRADIÇÃO
Ao longo de quase cinco décadas, algumas famílias se consolidaram como verdadeiros guardiões dessa tradição. São produtores que acordam ainda de madrugada para preparar o vinho, cortar o gengibre fresco, ajustar o ponto do açúcar e aquecer as panelas lentamente para garantir o sabor autêntico.
A dedicação dos proprietários transformou o produto em um negócio que, além de gerar renda, preserva o valor cultural e mantém viva a história de Cachoeirinha. A transmissão da receita é feita de forma oral, dentro de casa, garantindo que cada geração aprenda o jeito certo de fazer o quentinho — sem perder a autenticidade que conquistou o Agreste.
CURIOSIDADES QUE O AGRESTE NÃO ESQUECE
O Vinho Gengibre Quentinho é cercado de histórias pitorescas que se espalham de boca em boca. Uma delas diz que, nos anos 1980, alguns feirantes acreditavam que a bebida “dava força extra” para enfrentar a longa jornada de trabalho. Outra curiosidade é que, por muitos anos, só se vendia quentinho em garrafas de vidro reutilizadas, devidamente higienizadas, o que fazia parte do charme da tradição.
Há relatos também de que, em épocas de grande frio no Agreste, as filas para comprar o quentinho dobravam o quarteirão, tornando o produto um dos mais procurados da feira. Em dias de chuva, o movimento aumentava ainda mais — e ainda é assim até hoje.
A BEBIDA QUE VIROU ATRAÇÃO TURÍSTICA
Cachoeirinha, já conhecida pela força comercial da feira, passou a atrair visitantes que vinham exclusivamente para experimentar o autêntico Vinho Gengibre Quentinho. Guias turísticos do interior e influenciadores regionais começaram a destacar a bebida como um dos sabores mais tradicionais do Agreste.
Com isso, o quentinho passou a integrar roteiros culturais, especialmente para turistas que desejam vivenciar experiências genuínas do interior pernambucano — fortalecendo ainda mais a economia local.
HOMENAGEM DE DÉBORA ALMEIDA CONSAGRA O QUENTINHO COMO PATRIMÔNIO VIVO
Na manhã desta terça-feira, a deputada estadual Débora Almeida prestou uma homenagem especial aos produtores do Vinho Gengibre Quentinho, reconhecendo oficialmente a importância cultural e histórica da bebida.
A homenagem destacou o papel dos proprietários na preservação da tradição e o impacto que o produto tem na identidade de Cachoeirinha e de todo o Agreste.
Débora ressaltou que o quentinho vai além do sabor: representa a força do comércio popular, a criatividade nordestina e o valor da cultura que nasce do povo.
UM LEGADO QUE PASSA PARA AS NOVAS GERAÇÕES
As novas gerações começam a se envolver diretamente na produção, aprendendo com os mais antigos a receita, as técnicas de preparo e a importância de manter o produto fiel às origens.
Hoje, jovens que cresceram vendo suas famílias trabalhar com o quentinho assumem o compromisso de modernizar a produção sem perder a essência artesanal — garantindo que a bebida continue relevante por muitos anos.
PATRIMÔNIO DO AGRESTE: UM SABOR QUE É HISTÓRIA, MEMÓRIA E IDENTIDADE
O Vinho Gengibre Quentinho de Cachoeirinha é muito mais do que uma bebida: é um símbolo de resistência cultural, de afeto comunitário e de identidade popular.
Sua história atravessa décadas, sustenta famílias, aquece feirantes e encanta visitantes. Parte fundamental do cotidiano da região, o quentinho é, hoje, um patrimônio vivo — celebrado pela população e, agora, homenageado oficialmente como uma das maiores expressões culturais do Agreste pernambucano. O Gengibre Quentinho é orgulho de nossa gente, de nosso Agreste!