A tarde desta terça-feira (9) foi marcada por um movimento político que extrapolou os limites protocolados de cortesia e se consolidou como gesto de peso institucional no Estado. Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, o presidente Álvaro Porto abriu as portas do emblemático espaço de convivência dos parlamentares, o tradicional “Buraco Frio”, para um almoço que teve como centro não apenas um homenageado, mas o retrato de uma relação madura entre dois dos mais importantes poderes do Estado: o Legislativo e o Judiciário.
O encontro foi realizado em desagravo ao presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Ricardo Paes Barreto, que deixará o comando da Corte em janeiro de 2026. Mas a ocasião teve contornos ainda mais significativos ao contar também com a presença do presidente eleito do TJPE, Francisco Bandeira de Mello, que assumirá o posto em fevereiro do próximo ano. O gesto de Porto, ao unir o atual e o futuro mandatário do Judiciário na mesma mesa, estabeleceu mais do que um registro diplomático: consolidou um rito de continuidade, de confiança e de reafirmação do equilíbrio entre os poderes.
Com 37 parlamentares presentes — incluindo dois licenciados que hoje ocupam cargos no Executivo — Álvaro Porto demonstrou, na prática, que articulação política é menos discurso e mais ação. Governistas, independentes, oposicionistas e representantes de distintas regiões do estado ocuparam o mesmo ambiente, sem exceções partidárias ou barreiras ideológicas, formando um retrato raro e, nas palavras de muitos presentes, simbólico em um período nacional de tensão entre instituições.
Ao assumir a palavra, Porto foi direto ao espírito que pautou o encontro. Ressaltou a independência dos poderes, mas cravou, em tom firme, que autonomia não é sinônimo de conflito. “Esta Casa estará sempre atenta e pronta a, de mãos dadas, atender tudo aquilo que nos for demandado pelo TJPE. (…) O nosso compromisso constitucional é com Pernambuco e seu povo e assim será. A nossa independência enquanto Poder será defendida e preservada”, discursou.
Ricardo Paes Barreto, alvo central da homenagem, devolveu o gesto com agradecimentos claros ao Parlamento pela postura colaborativa adotada ao longo de sua gestão. Destacou que os projetos do Judiciário foram tratados com atenção pelos deputados e que a relação institucional com o Legislativo não apenas foi preservada, como ampliada.
Já o futuro presidente, Francisco Bandeira de Mello, fez questão de sublinhar que a continuidade desta interlocução será marca da sua gestão. O magistrado afirmou que os canais permanecerão abertos, com linguagem de cooperação e respeito às prerrogativas de cada poder.
A lista de presenças confirmou o caráter suprapartidário do encontro. Ao lado de Álvaro Porto, estiveram Rodrigo Farias (1º vice-presidente) e Francismar Pontes (1º secretário), além dos deputados Coronel Feitosa, Antônio Coelho, Waldemar Borges, Mário Ricardo, Dani Portela, Fabrizio Ferraz, Antônio Moraes, Roberta Arraes, Socorro Pimentel, Débora Almeida, João Paulo Lima, Jarbas Filho, Cayo Albino, Isaías Régis, Joãozinho Tenório, Claudiano Filho, Renato Antunes, Jefferson Timóteo, Wanderson Florêncio, France Hacker, Nino de Enoque, Abmael Santos, Danillo Godoy, Joaquim Lira, Diogo Moraes, Joel da Harpa, William Brígido, Aglailson Victor, Gleide Ângelo, Henrique Filho, Luciano Duque e Júnior Matuto. Também estiveram os deputados licenciados Kayo Maniçoba e Eriberto Filho, hoje integrantes do Executivo estadual.
O almoço, que à primeira vista poderia figurar apenas como agenda de cordialidade, se revelou uma demonstração calculada de convergência entre os poderes e de capacidade de liderança do presidente da Alepe. Na leitura política do dia, Álvaro Porto conseguiu mais do que reunir liderança: produziu imagem, construiu narrativa e reafirmou que no atual cenário o entendimento institucional, antes de artifício, é ferramenta central para governabilidade e respeito às regras democráticas.
Num momento em que o país convive com frequentes fricções entre os poderes, Pernambuco ofereceu, ao seu modo, um retrato de estabilidade e civilidade. E o “Buraco Frio”, espaço historicamente simples e pouco cerimonioso, foi o palco inesperado de um dos mais fortes recados de unidade e maturidade política do ano.