Segundo as investigações, Danielle manteve ligação direta com Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado pela PF como o principal articulador da organização criminosa. Em mensagens interceptadas, Antunes se referia a ela como “sócia Portugal”, uma indicação clara, de acordo com os investigadores, do papel estratégico desempenhado pela publicitária fora do Brasil.
A Polícia Federal sustenta que Danielle atuava como elo entre o núcleo do esquema no país e estruturas financeiras estabelecidas na Europa, especialmente em Portugal e na Alemanha. Caberia a ela a missão de administrar recursos no exterior, negociar investimentos, estruturar propostas para aquisição de imóveis e conduzir projetos internacionais que ajudariam a dar aparência de legalidade ao dinheiro desviado.
As apurações identificaram transferências superiores a R$ 13 milhões destinadas a Danielle. Diante do volume e da frequência dos repasses, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal. Em decisão, o ministro André Mendonça determinou a adoção de medidas cautelares alternativas à prisão, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a entrega do passaporte, impedindo a saída do país.
No despacho, o ministro destacou elementos apresentados pela Polícia Federal que indicariam a atuação contínua da investigada no esquema. “A PF demonstra que DANIELLE recebe mensalmente valores enviados por ANTÔNIO e atua como intermediária em aquisições internacionais de ativos”, registrou Mendonça, reforçando a tese de que ela exercia função ativa na engrenagem criminosa.
Danielle Fonteles ganhou projeção nacional ao atuar no marketing do Partido dos Trabalhadores. Fundadora da agência Pepper Comunicação Interativa, integrou a equipe de comunicação da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010 e prestou serviços a nomes de destaque do partido, como Fernando Pimentel e Rui Costa.
Em 2015, a Pepper Comunicação já havia sido alvo da Operação Acrônimo, que investigou contratos fictícios e repasses irregulares para campanhas do PT. À época, Danielle firmou acordo de delação premiada, detalhando esquemas de pagamentos disfarçados e movimentações financeiras no exterior. Após o escândalo, encerrou as atividades da agência e se afastou da vida pública.
Agora, quase uma década depois, o nome da ex-publicitária volta ao centro das investigações, desta vez apontada como a principal ponte internacional do esquema atribuído ao “Careca do INSS”.
A defesa de Danielle contesta a versão da Polícia Federal. Segundo seus advogados, os valores recebidos seriam referentes à negociação de um imóvel em Trancoso, no sul da Bahia, avaliado em cerca de R$ 13 milhões. Eles afirmam que o pagamento foi feito de forma parcelada, que a venda não chegou a ser concluída e que todo o montante foi devidamente declarado à Receita Federal, com recolhimento de impostos.
A explicação, no entanto, não convenceu os investigadores. Para a PF, há fortes indícios de que o suposto negócio imobiliário teria sido utilizado para encobrir a real natureza da relação entre Danielle e Antônio Antunes. Em documento encaminhado ao STF, a corporação afirma que a transação teria servido para “simular legalidade” e mascarar operações financeiras do grupo criminoso.
Com o avanço da Operação Sem Desconto, a Polícia Federal amplia o cerco sobre a estrutura internacional do esquema e reforça a linha de investigação que aponta para a utilização de empresas, imóveis e investimentos no exterior como instrumentos para lavar recursos desviados de aposentadorias e benefícios do INSS.