No momento da tragédia, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) já havia sido acionado. O chamado veio às 2h15, mas pouco havia a ser feito. O prefeito João Campos confirmou as mortes e destacou a gravidade da situação. Segundo ele, o deslizamento atingiu um imóvel de dois pavimentos, destruindo o andar térreo onde as vítimas estavam. O cenário de destruição e o impacto da tragédia exigem uma reavaliação completa da área, afirmou o coronel Cássio Sinomar, da Defesa Civil. Mais de 400 imóveis estão sob análise de risco na localidade.
A morte de Maria da Conceição e Nicole soma-se a outras quatro registradas desde o início das chuvas. Na noite anterior, uma mulher de 24 anos morreu ao sofrer um choque elétrico em Paulista. Foi a segunda vítima de descarga elétrica no temporal. Na manhã da quarta-feira, Ruan Pablo da Silva Melo, de 21 anos, também perdeu a vida em circunstâncias semelhantes no bairro da Boa Vista. O jovem foi encontrado submerso em uma via alagada na Rua Dom Bosco, onde testemunhas relataram que ele teria encostado em um fio energizado antes de cair na água. O Samu foi acionado, mas já encontrou o corpo sem vida.
A forte correnteza dos canais transbordados também levou duas vidas. No bairro da Estância, na Zona Oeste, e em Vila da Fábrica, em Camaragibe, dois homens foram encontrados sem sinais vitais. Testemunhas relataram que ambos foram arrastados pela enxurrada, mas as circunstâncias exatas das mortes ainda não foram esclarecidas. Os corpos foram retirados por equipes do Corpo de Bombeiros, enquanto moradores acompanhavam, impotentes, a cena.
O alerta máximo continua. Desde a madrugada, a prefeitura do Recife mantém a recomendação para que a população só saia de casa em caso de extrema necessidade. A precipitação acumulada já ultrapassa 187 milímetros em 24 horas, um volume superior ao esperado para todo o mês de fevereiro. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um novo alerta vermelho para Pernambuco e estados vizinhos, indicando risco de chuvas superiores a 100 milímetros e ventos acima de 100 km/h. A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) reforçou o aviso para o Grande Recife, a Zona da Mata e o Agreste.
Os impactos das chuvas também atingem o abastecimento de água. A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) interrompeu o fornecimento em áreas de morro de sete municípios, incluindo Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Camaragibe. Os deslizamentos de terra já passam de 30, principalmente em Jaboatão, Camaragibe e Paulista. Embora não tenham causado feridos, dezenas de famílias precisaram deixar suas casas. No Recife, mais de 100 pessoas estão desalojadas. A prefeitura disponibilizou 500 vagas em abrigos temporários e anunciou a abertura de mais três espaços para acolher famílias atingidas.
A realidade se repete em Jaboatão dos Guararapes e Paulista, onde moradores precisaram sair às pressas para evitar o pior. Em Paulista, uma barreira cedeu no bairro da Mirueira, atingindo uma residência. Apesar dos danos, ninguém se feriu. Cinco famílias foram encaminhadas para um abrigo improvisado na Associação de Moradores da comunidade, onde receberam colchões, alimentos e itens de higiene.
O cenário é de incerteza. As chuvas continuam e a previsão não é animadora. A cada novo deslizamento, cada nova inundação, a cidade se vê diante do mesmo dilema: a força da natureza expõe a fragilidade das estruturas urbanas, enquanto moradores aguardam pelo alívio que ainda parece distante.
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