Na Câmara Municipal de Caruaru, no Agreste Central de Pernambuco, os debates políticos ganharam temperatura elevada durante uma sessão recente que teve como pano de fundo o escândalo nacional envolvendo fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A discussão ganhou contornos ainda mais intensos quando os vereadores Cabo Cardoso (PP), líder do governo municipal, e Fagner dos Animais (PDT), líder da bancada pedetista, entraram em rota de colisão. A tensão entre os dois parlamentares refletiu não apenas a polarização local, mas também os ecos de um cenário político nacional marcado por denúncias e tentativas de capitalização eleitoral em cima de crises institucionais.
Cabo Cardoso, em tom inflamado e com palavras cuidadosamente calculadas para atingir adversários sem violar diretamente os limites do decoro, usou a tribuna para criticar duramente o governo federal e apontar, sem mencionar nomes, para a suposta participação de um “ex-deputado federal da cidade” no esquema de fraudes que teria desviado milhões dos cofres públicos destinados a aposentadorias e pensões. Embora evitasse citar nomes, a referência ao ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT), natural de Caruaru, foi evidente. "Caruaru estampado nos jornais. O ex-deputado federal da cidade envolvido até o talo. Nossos aposentados e idosos que passaram a vida inteira trabalhando sendo assaltados. Confio no trabalho da polícia”, disse o vereador, mirando em uma narrativa que liga corrupção a figuras políticas tradicionais e reforça o discurso bolsonarista de combate à velha política.
A resposta de Fagner dos Animais veio com igual intensidade, em tom de defesa partidária e pessoal. O pedetista não apenas citou Wolney nominalmente, como também acusou Cabo Cardoso de tentar criar uma conexão direta entre o escândalo e o ministro, mesmo sem provas ou investigações que envolvam oficialmente o nome de Queiroz. “O vereador precisa ter responsabilidade ao que fala, já que aqui não deram nome ao ex-deputado Wolney, mas aqui eu falo o nome dele. O vereador quer associar o que aconteceu com Wolney, e isso não vai colar”, afirmou, elevando o tom e expondo a estratégia oposicionista de tensionar o debate público em ano pré-eleitoral.
A sessão se transformou em um ringue político, onde cada palavra era meticulosamente escolhida para ferir, defender ou provocar. A menção indireta ao nome do ministro provocou um mal-estar imediato entre os parlamentares, e o clima dentro do plenário ficou visivelmente carregado, com olhares trocados e intervenções cada vez mais duras. O episódio revela como escândalos nacionais, mesmo quando ainda sem desdobramentos locais concretos, são absorvidos e reinterpretados no cenário político municipal, muitas vezes servindo de munição para embates que ultrapassam as fronteiras da gestão local.
A disputa entre os dois vereadores também escancarou o redesenho das alianças e rivalidades na política de Caruaru, onde figuras como Wolney Queiroz ainda exercem influência significativa, e a ascensão de nomes ligados ao bolsonarismo, como Cabo Cardoso, tende a acirrar os debates em plenário. O uso de pautas federais como instrumento de desgaste político local se intensifica à medida que o calendário eleitoral se aproxima, transformando a Câmara em um palco de disputas simbólicas com reflexos diretos na narrativa construída junto à população.
O embate, embora centrado em declarações e defesas, traduziu uma divisão política que vai além da ideologia. Ele revelou a disputa por espaço, narrativa e protagonismo em uma cidade que se tornou centro de atenção com a nomeação de um filho da terra para o ministério, e que agora se vê em meio a tentativas de associar seu nome a um escândalo em plena investigação. O caso do INSS, portanto, mais do que apenas uma denúncia nacional, virou também combustível para um embate local que promete reverberar pelos próximos meses nas tribunas, nas ruas e nas redes sociais.
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