O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou discretamente a articulação de uma reaproximação com lideranças do MDB, numa tentativa de manter o partido no campo governista nas eleições de 2026. A missão foi delegada a emissários de confiança, encarregados de sondar caciques emedebistas influentes como os clãs Calheiros, em Alagoas, e Barbalho, no Pará. O movimento tem causado desconforto dentro do próprio PT, onde ainda resiste o ressentimento pelo papel do MDB no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, com a articulação direta do então vice Michel Temer. Apesar do tempo decorrido, esse episódio permanece como uma ferida mal cicatrizada na militância e na cúpula petista, que agora assiste com reservas à nova tentativa de aproximação.
A presença da ministra Simone Tebet, do MDB, no governo Lula como titular do Planejamento, também entrou na equação. Politicamente enfraquecida e enfrentando resistências até em seu próprio estado, Mato Grosso do Sul, Tebet busca manter sua relevância no cenário nacional e tem trabalhado para ser considerada como possível candidata à vice-presidência na chapa de Lula. A articulação, por ora, é apenas sugerida nos bastidores, sem promessas formais nem negativas categóricas, mas os sinais são claros para os interlocutores: o nome dela está em jogo, e o MDB quer ser valorizado. Por outro lado, a simples menção a uma eventual troca na vice gerou ruído na relação com o PSB, partido do atual vice-presidente Geraldo Alckmin. Os socialistas, que também têm planos eleitorais próprios para 2026, receberam com desconfiança os sinais de aproximação entre Lula e setores do MDB.
Essa tensão se soma ao mal-estar provocado pelas caravanas organizadas pelo MDB desde março. Com o pretexto de ouvir a base em diferentes estados, o partido tem captado uma percepção crescente de desgaste do governo federal, o que reforça o discurso de independência de alas mais refratárias à permanência no bloco de apoio ao Planalto. Lideranças emedebistas têm relatado a interlocutores que o cenário nas ruas é de cautela, e que a imagem do presidente Lula não ajuda no discurso junto ao eleitorado em regiões-chave. Por isso, internamente, o MDB já discute a possibilidade de desembarcar da base ainda neste ano. A decisão deve ser consolidada no congresso nacional que o partido prepara para setembro, quando os dirigentes devem definir formalmente os rumos da legenda na corrida presidencial de 2026. Nos bastidores, a maioria já sinaliza que prefere não repetir o alinhamento de 2022.
Mesmo diante desse cenário, Lula ainda aposta na habilidade política que o levou a construir grandes alianças em eleições passadas. Os emissários designados para esse diálogo com o MDB têm mantido cautela para não escancarar os movimentos e evitar desgaste público. O Planalto quer evitar a imagem de que está cedendo demais apenas para manter o partido ao lado. Ainda assim, há quem avalie que a costura com os Calheiros e os Barbalho pode render frutos, especialmente se o MDB enxergar alguma vantagem concreta. Com os olhos voltados para o futuro, Lula sabe que o MDB pode ser o fiel da balança em 2026 — e que, com ou sem mágoas, a política exige pragmatismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário