Em meio ao agravamento da tensão institucional entre o Palácio do Campo das Princesas e a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Renato Antunes (PL) decidiu romper o silêncio e fez um alerta que vai além da disputa política entre os dois principais polos de poder do estado. Durante entrevista concedida nesta segunda-feira (3), o parlamentar fez duras críticas tanto à base do governo quanto à postura da oposição, responsabilizando ambos pelo impasse que vem travando votações importantes na Casa e prejudicando diretamente a população. O estopim da mais recente crise foi o esvaziamento do plenário por parte dos deputados governistas, que resultou na falta de quórum para a votação do reajuste salarial dos professores da rede estadual, tema que mobiliza diversas categorias e sindicatos em todo o estado.
Renato Antunes não poupou críticas ao que classificou como uma “queda de braço insustentável” entre os grupos ligados à governadora Raquel Lyra (PSDB) e ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), pré-candidatos à sucessão estadual em 2026. Para ele, a antecipação do processo eleitoral está transformando o Legislativo em palco de uma guerra por hegemonia entre os dois blocos, em detrimento das pautas que interessam à sociedade. “Vai terminar o governo levando a culpa, porque o salário do professor não vai ser votado. E até quando vai esvaziar? Ou vota tudo ou não vota nada? Vai ficar nessa até a eleição? E Pernambuco se resume a João e Raquel, para a gente ficar nessa briga, nesse impasse? Não pode”, afirmou o deputado, visivelmente incomodado com a condução dos trabalhos.
A crítica de Antunes recaiu, sobretudo, sobre o comportamento da base governista, que, segundo ele, tem pressionado a Alepe a votar somente matérias de interesse do Executivo, bloqueando todas as demais deliberações quando isso não acontece. Essa prática, segundo o parlamentar, compromete a independência do Legislativo e engessa o debate democrático. “O governo quer tudo, ou então paralisa tudo. Isso é um erro. Quem perde com essa postura é o povo de Pernambuco”, destacou. O deputado ainda ressaltou que a oposição também tem sua parcela de responsabilidade no impasse, ao insistir em uma postura que classificou como “radicalizada” e “sem diálogo”. “Não se pode fazer oposição de fígado, e eu acho que a oposição esticou a corda demais. Quem tem a perder aqui é o povo de Pernambuco”, advertiu.
O cenário descrito por Antunes evidencia um ambiente político contaminado por disputas eleitorais precoces, em que a pauta institucional parece cada vez mais subordinada aos projetos pessoais dos protagonistas da cena política estadual. A falta de articulação política, somada à ausência de uma estratégia que priorize os interesses coletivos, tem transformado votações essenciais, como a do reajuste dos professores, em reféns de uma polarização que ainda está a mais de um ano da disputa oficial. O parlamentar do PL, mesmo integrando um partido que compõe a oposição, fez um apelo pela retomada do equilíbrio e da responsabilidade institucional, lembrando que a democracia exige contrapontos, mas também a disposição para o entendimento.
Na prática, a fala de Renato Antunes expõe o incômodo crescente entre os parlamentares que não se sentem representados por nenhuma das duas lideranças dominantes no estado. Sua crítica reflete a percepção de que Pernambuco possui uma realidade complexa, diversa e muito maior do que a rivalidade entre João Campos e Raquel Lyra. Ao verbalizar essa insatisfação, o deputado aponta para a urgência de uma nova postura política, que coloque as necessidades da população acima dos cálculos eleitorais. O episódio envolvendo o reajuste dos professores é apenas um sintoma de um problema mais profundo: a desconexão entre o debate político e as demandas urgentes da sociedade. A insistência na lógica do tudo ou nada, do cabo de guerra permanente, pode aprofundar ainda mais a crise institucional, caso não haja uma inflexão de rota por parte dos líderes dos dois blocos que hoje monopolizam o jogo político estadual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário