O caso chamou atenção pela recorrência de denúncias envolvendo o mesmo gabinete. De acordo com uma apuração da Folha de S.Paulo, outras duas funcionárias também estariam lotadas de maneira irregular na estrutura de Hugo Motta. Louise Lacerda, estudante de medicina em tempo integral, aparece na folha de pagamento da Câmara como assessora, mas não estaria cumprindo suas funções por conta da dedicação exigida pela universidade. Já Monique Magno, assistente social da prefeitura de João Pessoa, figura como integrante da equipe do parlamentar, mas segundo a reportagem, também não comparece à Câmara e estaria acumulando ilegalmente dois cargos públicos.
A nomeação de Gabriela, com vínculo ativo há mais de sete anos, foi feita de forma discreta, sem alardes, e com salário compatível ao de um servidor de nível médio, o que dificulta a percepção imediata de irregularidades. Mesmo assim, sua rotina desmente a natureza do cargo. Não há registros públicos de participação dela em sessões, comissões ou qualquer atividade legislativa que justifique sua permanência na folha. Além disso, a localização das clínicas onde trabalha demonstra que ela permanece em pontos fixos durante dias inteiros, distantes do Congresso Nacional. O caso agrava-se ainda mais com o volume de recursos públicos destinados ao pagamento da funcionária: mais de R$ 800 mil, valor suficiente para financiar dezenas de bolsas de estudo, tratamentos médicos e ações sociais.
O gabinete do deputado Hugo Motta emitiu nota alegando que os funcionários, inclusive os que atuam remotamente, cumprem suas obrigações dentro das normas previstas pelo regimento da Câmara. A assessoria reforça que o controle de ponto é dispensado para cargos comissionados que desempenham atividades externas ou remotas, desde que haja entrega das tarefas atribuídas. A justificativa, porém, entra em choque com a realidade observada nas investigações jornalísticas, que mostram uma ausência sistemática e atividades paralelas sem relação com o mandato parlamentar. A situação levanta questionamentos sobre a efetividade dos mecanismos de fiscalização da Câmara e sobre o uso de verbas públicas em nomeações de apadrinhados políticos. As denúncias, que envolvem diretamente o presidente da Casa, surgem num momento de tensão institucional e podem impactar a imagem da Câmara dos Deputados perante a opinião pública. Enquanto isso, os salários seguem sendo pagos sem interrupções, e nenhuma medida concreta foi anunciada para apurar internamente a conduta das servidoras.
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