As críticas de João Campos foram feitas logo após a governadora Raquel Lyra anunciar que o edital do leilão da concessão da Compesa será lançado ainda neste mês de agosto, com expectativa de atrair R$ 20 bilhões em investimentos privados. O prefeito de Riacho das Almas, Dioclécio Rosendo, um dos articuladores da reação dos gestores, rebateu de forma dura. Ele afirmou que, durante mais de sete meses, prefeitos de todo o Estado participaram de reuniões, audiências públicas, encontros regionais e debates promovidos pela Amupe, Assembleia Legislativa e Tribunal de Contas, enquanto o Recife, segundo ele, “se absteve” dessas discussões. “A afirmação correta do prefeito do Recife deveria ser a de que ele não participou dos debates. Fui convidado e participei de todos, presenciais e online. A proposta foi aprovada sem votos contrários, apenas cinco abstenções, e entre elas está o Recife”, destacou.
Para Dioclécio, o posicionamento de João Campos neste momento é preocupante, pois, às vésperas do leilão, poderia até interferir no interesse de investidores e reduzir o valor a ser arrecadado. Ele lembrou que a concessão é aguardada há anos por muitos municípios que sofrem com a falta de água e rodízios constantes. “Foram mais de mil contribuições ao projeto, algumas vindas até de prefeitos do PSB. Há cidades como a minha que enfrentam longos períodos de desabastecimento. A população não aguenta mais”, frisou.
O presidente da Compesa, Alex Campos, também se pronunciou. Ele defendeu que a proposta foi elaborada com base em estudos técnicos robustos e inspirada em experiências de outros estados que já realizaram concessões semelhantes. Segundo Alex, o atual modelo de gestão, em que a Compesa cuida de toda a cadeia — da captação e tratamento da água até a distribuição e tratamento de esgoto —, já não atende às exigências de universalização impostas pelo marco legal do saneamento básico. Para alcançar essa meta, ele argumenta, é indispensável contar com o aporte financeiro e a expertise do setor privado.
O projeto está em análise final no Tribunal de Contas do Estado (TCE), sob relatoria do conselheiro Dirceu Rodolfo. A expectativa da Compesa e do governo é de que o parecer seja emitido ainda este mês. Uma vez aprovado, o edital será publicado, e o leilão deverá ocorrer cerca de 60 dias depois. As empresas interessadas precisarão se comprometer com metas claras, incluindo a eliminação da intermitência no abastecimento de água. Em alguns municípios, como São Bento do Una, a situação chega ao extremo de haver água nas torneiras apenas cinco dias por mês, restando 25 dias de seca.
Alex Campos ressaltou ainda que a governadora Raquel Lyra determinou que todos os recursos arrecadados no leilão sejam aplicados exclusivamente na melhoria da rede de abastecimento e tratamento de esgoto. Ele destacou que, diferente de outros estados que destinaram parte do dinheiro para áreas não relacionadas ao saneamento, Pernambuco direcionará integralmente os valores para ampliar a produção e a distribuição de água, além de modernizar a infraestrutura de esgoto. Na visão dele, essa medida garante que o resultado da concessão seja sentido diretamente no dia a dia da população, com melhorias concretas no acesso à água potável e no tratamento adequado dos resíduos.
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